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Sobre a Bíblia Sagrada
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Sobre a Bíblia Sagrada

Robert G. Ingersoll

 

Escrito em 1894

Alguém tinha de dizer a verdade sobre a Bíblia. Os padres não ousariam, porque seriam expulsos de seus púlpitos. Professores nas escolas não ousariam porque assim, perderiam seus salários. Políticos não ousariam. Eles seriam derrotados. Editores não ousariam. Perderiam seus leitores. Comerciantes não ousariam. Perderiam seus clientes. Homens da alta sociedade não ousariam. Perderiam prestígio. Nem balconistas ousariam. Eles seriam dispensados. 

Então, decidi eu mesmo fazer isto. 

Há milhões de pessoas que acreditam que a Bíblia é a palavra inspirada de Deus -- milhões que crêem que este livro é um cajado e uma guia, conselheiro e consolador, que ele preenche o presente com paz e o futuro com esperança -- milhões crêem que ele é a fonte da lei, da justiça e piedade, e que através de seus sábios e benignos ensinamentos o mundo conquistou sua liberdade, riqueza e civilidade -- milhões que imaginam que este livro é uma revelação da sabedoria e amor de Deus na mente e coração do homem -- milhões que têm neste livro como uma tocha que conquista a escuridão da morte e que 
derrama seu brilho numa outra vida -- uma vida sem lágrimas. 

Eles esquecem sua ignorância e selvageria, seu ódio à liberdade, sua perseguição religiosa; eles lembram do céu mas esquecem as masmorras do sofrimento eterno. Eles esquecem que este livro aprisiona a mente e corrompe o coração. Esquecem que ele é inimigo da liberdade de pensamento. Liberdade é minha religião. Liberdade de mãos e mente -- de pensamento e trabalho. Liberdade é uma palavra odiada pelos reis. Abominada pelos papas. É uma palavra que abala coroas e altares. É uma palavra que já deixou coroados sem súditos, e as mãos estendidas da superstição sem esmolas. Liberdade é o fruto da justiça. O perfume da piedade. Liberdade é semente e solo, o ar e a luz. O orvalho e a chuva do progresso, amor e alegria. 

I - A ORIGEM DA BÍBLIA 

Algumas famílias de viajantes -- pobres, esfarrapados, sem educação, arte ou poder; descendentes daqueles que foram escravizados por centenas de anos; ignorantes como os habitantes da África Central e recém-fugidos dos seus senhores no deserto de Sinai. Seu comandante era Moisés, um homem que havia sido educado pela família do faraó que havia aprendido a mitologia e as leis do Egito. Com o propósito de controlar seus seguidores ele fingiu que fora instruído e assistido por Jeová, o deus dos fugitivos. Tudo o que acontecia era atribuído à interferência do seu Deus. Moisés dizia que encontrara esse Deus cara a cara; que no topo do Monte Sinai ele recebera as tábuas de pedra nas quais, pelos dedos de Deus, os dez mandamentos haviam sido escritos, e que Jeová havia dito quais os sacrifícios e cerimônias que o agradavam e quais as leis que deveriam governar esse povo. 

Deste modo a religião judaica e o código de leis foram estabelecidos. 

Não foi dito que esta religião e esse código de leis se estenderiam a toda a humanidade. 

Naquela época esses andarilhos não tinham qualquer relacionamento com outros povos. Não havia linguagem escrita, eles não sabiam ler ou escrever. Não havia meios de trazer essas mensagens a outros povos, de modo que elas ficaram enterradas no linguajar dessas tribos ignorantes, miseráveis e desconhecidas por mais de dois mil anos. 

Muitos séculos depois de Moisés, o líder, estar morto, muitos séculos depois que todos os seus seguidores já não mais existissem, o Pentateuco foi escrito, o trabalho de muitos escribas, e para dar força e autoridade, disseram que Moisés fora o autor. 

Sabemos hoje que o Pentateuco não foi escrito por Moisés. 

Cidades são mencionadas que não existiam na época em que Moisés viveu. 

Dinheiro, cunhado séculos após sua morte, é citado. 

Então, muitas regras não se aplicavam a viajantes do deserto -- leis sobre agricultura, sobre o sacrifício de bois, ovelhas e bezerro, sobre tecelagem de roupas, sobre colheitas, sobre o preparo de sementes, sobre casas e templos, sobre cidades e refúgios, e sobre muitos outros assuntos que nada diziam respeito a migrantes famintos do deserto e das pedras. 

Hoje admitem os Teólogos inteligentes e honestos que Moisés não foi o autor do Pentateuco, mas todos admitem que ninguém sabe quem eram os autores, quem escreveu qual daqueles livros, este ou aquele capítulo e linha. Sabemos que os livros não foram sequer escritos numa mesma geração. Que não foram escritos por uma só pessoa. Que está repleto de erros e contradições. Sabe-se que Josué não escreveu o livro que leva seu nome porque trata de eventos que ocorreram muito tempo após sua morte. 

Ninguém conhece ou finge conhecer o autor dos julgamentos; o que sabemos é que foi escrito séculos após os julgamentos deixarem de existir. Ninguém conhece o autor de Ruth, nem o primeiro e segundo de Samuel; o que sabemos é que Samuel não escreveu os livros que levam seu nome. No 28º capítulo do primeiro Samuel é citada a criação de Samuel pela bruxa de Endora. 

Ninguém sabe quem foi o autor do primeiro e segundo livro dos reis ou o primeiro e segundo livro das Crônicas; tudo o que sabemos é que esses livros são de nenhum valor. 

Sabemos que os Salmos não foram escritos por David. Nos Salmos a escravidão é citada, e isto não aconteceu até quinhentos anos após David ter ido dormir com seus pais. 

Sabemos que Salomão não escreveu os livros dos Provérbios ou as Canções; que Isaías não foi o autor do livro que leva seu nome; que ninguém sabe o autor de Eclesiastes, Jó, Ester, ou qualquer outro livro do Velho Testamento, com exceção de Ezra. 

Sabemos que Deus não é mencionado ou de qualquer outra maneira citado no livro de Ester. Sabemos também que o livro é cruel, absurdo e impossível. 

Deus não é mencionado no salmo de Salomão, o melhor livro do Velho Testamento. 

E sabemos que Eclesiastes foi escrito por um não-crente. 

Sabemos que os judeus não decidiram qual dos livros eram inspirados -- autênticos -- até o segundo século depois de Cristo. 

Sabemos que a idéia da inspiração teve um crescimento gradual, e que a inspiração havia sido determinada por aqueles que tinham certos fins a atingir. 

II - SERÁ O VELHO TESTAMENTO INSPIRADO? 

Para ser, deveria ser um livro que nenhum homem -- ou grupo de homens-- poderia produzir. 

Deveria conter a perfeição da Filosofia. 

Deveria estar de acordo com todo fato da natureza. 

Não deveria conter nenhum erro em Astronomia, Geologia ou qualquer assunto da Ciência. 

Sua moralidade deveria ser a mais alta e pura. 

Suas leis e regras para a conduta deveriam ser as mais justas, sábias, perfeitas, e perfeitamente adaptadas aos fins desejados. 

Não deveria conter nada que faça o homem cruel, vingativo ou infame. 

Deveria ser cheio de justiça, pureza, honestidade, piedade e espírito de 
liberdade. 

Deveria ser avessa à opressão e à guerra, à escravidão e avidez, ignorância, credulidade e superstição. 
Deveria desenvolver a mente e civilizar o homem. 

Deveria satisfazer o cérebro e o coração dos mais sábios e inteligentes. 

E deveria ser verdadeira. 

Será que o Velho Testamento satisfaz estes parâmetros? 

Há algo no Velho Testamento -- em História, teoria, lei, moralidade, ciência -- acima e além das idéias, crenças, costumes e preconceitos existentes naqueles povos entre os quais os autores viveram? 

Há qualquer raio de luz de qualquer fonte sobrenatural? 

Os antigos hebreus acreditavam que a Terra era o centro do Universo, e que o sol, lua e estrelas eram manchas no céu. 

Com isto a Bíblia concorda. 

Pensavam que a terra era plana, com quatro cantos; que o céu, o firmamento, era sólido -- o piso da casa de Jeová. 

A Bíblia ensina o mesmo. 

Imaginavam que o sol girava em torno da Terra e que, parando o sol, o dia se 
prolongaria. 

A Bíblia concorda com isto. 

Acreditavam que Adão e Eva seriam o primeiro homem e mulher; que eles haviam 
sido criados alguns anos antes e que eles, os hebreus, eram seus 
descendentes. 

Isto a Bíblia ensina. 

Se alguma coisa é ou pode ser certa, os escritores da Bíblia estavam enganados sobre a criação, Astronomia, Geologia; sobre as causas de fenômenos, a origem do mal e as causas da morte. 

Agora deve-se admitir que se foi um Ser Infinito o autor da Bíblia, ele deveria saber todos os fatos, todas as ciências e não cometeria qualquer erro. 

Se no entanto, há erros, desvios, falsas teorias, mitos ignorantes e asneiras na Bíblia, ela só pode ter sido escrita por seres finitos; ou seja, por pessoas ignorantes e equivocadas. 

Nada pode ser mais claro que isto. 

Por séculos a Igreja sustentou que a Bíblia era absolutamente certa; que não continha nenhum erro; que a história da criação era verdadeira; que sua Astronomia e Geologia estavam de acordo com os fatos; que os cientistas que discordassem do Velho Testamento eram infiéis e ateus. 

Hoje as coisas mudaram. Cristãos educados admitem que os escritores da Bíblia não eram tão inspirados como a ciência. Eles agora dizem que Deus, ou Jeová não inspirou os escritores desse livro com o propósito de ensinar o mundo sobre Astronomia, Geologia ou qualquer outra Ciência. Eles agora admitem que os homens inspirados que escreveram o Velho Testamento não sabiam coisa alguma de ciência, e que eles escreveram sobre a terra, as estrelas, o sol e a lua de acordo com a ignorância da época. 

Foram precisos muitos séculos para forçar os Teólogos a admitir isto. Relutantemente, cheios de malícia e ódio, os pregadores se retiraram de campo, deixando a vitória com a ciência. 

Então eles assumiram outra tática; 

Eles passaram a afirmar que os autores da Bíblia eram inspirados em questões espirituais e morais; que Jeová queria informar seus filhos seus desígnios e seu infinito amor; que Jeová, vendo seu povo mau, ignorante e depravado, queria fazê-lo piedoso, justo, sábio e espiritual, e que a Bíblia é inspirada em leis, na religião que ela ensina e em suas idéias de governo. 

Essa é a situação atual. Estaria a Bíblia mais próxima a seus ideais de justiça, piedade, moralidade ou religião que suas concepções de ciência? ou sua moral? 

Ela apoiou a escravidão -- sancionou a poligamia. 

Poderia o diabo fazer pior? 

É ela piedosa? 

Na guerra, ela estendia a bandeira negra; comandava a destruição, o massacre de tudo -- do idoso, do doente e desesperançado -- de esposas e bebês. 

Eram suas leis inspiradas? 

Centenas de ofensas eram punidas com a morte. Pegar em ferramentas de trabalho nos domingo, assassinar seu pai na Segunda, eram crimes iguais. Não há na literatura código de leis mais sangrento. As leis da vingança -- retaliação -- eram as leis de Jeová. Um olho por um olho, um dente por um dente, um membro por um membro. 

Isto é selvageria -- não Filosofia. 

Seria justa e racional? 

A Bíblia é o oposto de tolerância religiosa -- de liberdade religiosa. Quem discordasse da maioria era apedrejado até a morte. Investigação era um crime. Maridos eram ordenados a denunciar e ajudar na matança de esposas não crentes. 

É inimiga da arte. "Não farás imagem esculpida". Isto é a morte da arte. 

Palestina jamais produziu um pintor ou escultor. 

Será a Bíblia civilizada? 

Ela apoia a mentira, roubo, furto, assassinato, venda de carne estragada a estrangeiros, e até o sacrifício de seres humanos a Jeová. 

Será ela filosófica? 

Ensina que pecados de uma pessoa sejam transferidos a um animal -- um bode. Faz da maternidade uma ofensa para a qual a oferta de um pecado teve de ser feito. 

Era mau parir um menino, e duas vezes mau parir uma menina. 

Fabricar o óleo que era usado pelos padres era uma ofensa punida com a morte. 

O sangue de um pássaro morto em água corrente era tido como medicinal. 

Mancharia um Deus civilizado seu altar com o sangue de ovelhas, cordeiros e cabritos? Transformaria seus padres em carniceiros? Sentiria prazer em sentir cheiro de carne queimando? 

III - OS DEZ MANDAMENTOS. 

Alguns advogados cristãos -- alguns juizes estúpidos e eminentes -- têm dito e ainda dizem, que os dez mandamentos são a fundação de toda a lei. 

Nada poderia ser mais absurdo. Muito antes desses códigos serem ditos, houvera códigos de leis na Índia e Egito -- leis contra assassinato, perjúrio, furto, adultério e fraude. Essas leis são tão antigas quanto a sociedade humana; tão antigas como o amor à vida; tão antigas quanto a indústria; quanto à idéia de prosperidade; antigas como o amor humano. 

Todos os mandamentos que eram bons, eram antigos; todos os que eram novos, eram tolos. Se Jeová fosse civilizado, deixaria de fora o mandamento sobre guardar os sábados e em seu lugar colocaria: "Não escravizarás teu semelhante". Ele omitiria aquele que fala de juramento e colocaria: "O homem terá apenas uma mulher, e a mulher, apenas um homem". Deixaria de lado aquele sobre imagens esculpidas e colocaria: "Não provocarás guerras de extermínio e só desembainharás tua espada em legítima defesa". 

Se Jeová fosse civilizado, como seriam melhor aqueles mandamentos. 

Tudo o que chamamos de progresso -- a emancipação do homem, o trabalho, a substituição da pena do encarceramento pela pena de morte, o fim da poligamia, o estabelecimento da liberdade de expressão, os direitos de consciência; em suma, tudo o que tende à civilização do homem; todos os resultados da investigação, observação, experiência e livre pensamento; tudo o que se conseguiu em benefício do homem desde o fim da idade das trevas -- tem sido feito apesar do Velho Testamento. 

Deixe-me agora exemplificar a moralidade, a misericórdia, a filosofia e a bondade do Velho Testamento. 

A HISTÓRIA DE ACAM 

Josué tomou a cidade de Jericó. Depois da queda da cidade ele declarou que todo o espólio seria dado a Jeová. 

Apesar da ordem, Acam escondeu em suas vestes prata e ouro. 

Depois Josué tentou tomar a cidade de Ai. Ele falhou e muitos de seus soldados foram mortos. Josué procurou as causas da derrota e descobriu o tesouro oculto nas roupas de Acam, duzentos pesos de prata e uma cunha de ouro. Então Acam confessou. 

Então Josué aprisionou os filhos e as filhas de Acam, seu gado e ovelhas e os apedrejou até a morte e enterrou seus corpos. 

Nada indica que os filhos e filhas cometeram qualquer crime. Certamente as velhas e gado não mereciam ser trucidados para pagar os crimes de seu dono. Esta é a justiça e a piedade de Jeová! 

Após cometer esses crimes, com a ajuda de Jeová, ele capturou a cidade de Ai. 

A HISTÓRIA DE ELIAS 

"E ele veio para Bethel, e quando ele andava pelo caminho, saíram pequenas crianças da cidade e zombaram dele e disseram-lhe: 'levanta, calvo'. 

"E ele se virou, olhou para eles, e os amaldiçoou em nome do Senhor. E então, duas ursas vieram da mata e devoraram quarenta e duas das crianças". 

Esta era a atuação do bom Deus -- o piedoso Jeová! 

A HISTÓRIA DE DANIEL 

O rei Dario honrou e exaltou Daniel e os príncipes nativos tiveram ciúmes. Então eles induziram o rei a assinar um decreto para efeito de que, qualquer homem que fizesse qualquer petição a qualquer deus ou homem, com exceção do rei Dario, por trinta dias, seria atirado ao covil dos leões. 

Depois esses homens descobriram que Daniel, com sua face voltada para Jerusalém, rezava três vezes ao dia para Jeová. 

Então Daniel foi atirado ao covil dos leões; uma pedra foi colocada na entrada do covil e selada com o selo real. 

O rei dormiu mal. Na manhã seguinte ele foi ao covil e chamou Daniel. Daniel respondeu e disse ao rei que Deus mandara seus anjos e fechara as bocas dos leões. 

Daniel foi liberado vivo e o rei se converteu ao Deus de Daniel. 

Dario, que acreditava num Deus verdadeiro, mandou os homens que acusaram Daniel, junto com suas esposas e filhos para o covil dos leões. 


"E os leões os dominaram e quebraram todos os seus ossos em pedaços e os reuniram no fundo do fosso." 

O que fizeram as viúvas e crianças? Como ofenderam o rei Dario, que acreditava em Jeová? Quem protegeu Daniel? Jeová! Quem deixou de proteger as inocentes viúvas e crianças? Jeová! 

A HISTÓRIA DE JOSÉ 

O faraó teve um sonho que foi interpretado por José. 

De acordo com essa interpretação, deveriam ocorrer sete anos de fartura, seguidos de sete anos de fome. José avisou o faraó para comprar todo o excedente de sete anos de fartura e armazenar tudo para os anos de fome. 

O faraó nomeou José como Ministro ou agente e ordenou que adquirisse o excesso de produção daqueles anos de fartura. 

Então veio a fome. O povo recorreu ao faraó em busca de ajuda. O faraó recomendou que procurassem José e fizessem o que ele mandasse. 

José vendeu milho para os egípcios até que seu dinheiro acabasse -- até que ele ficasse com tudo. 

Então o povo disse: "Dê-nos milho e nós pagaremos com gado." 

José então lhes deu milho até que todo o seu gado, cavalos e carneiros 
fossem dados a ele. 

Então o povo disse: "Dê-nos milho e nós lhe daremos nossas terras." 

José então deu milho até que toda a terra havia sido dada. 

Mas a fome continuava e o povo lhes deu seus próprios corpos e se tornaram servos do faraó. 

Então José deu a eles sementes e fez um acordo com eles para que dessem para sempre um quinto do que produzissem para o faraó. 

Quem habilitou José a interpretar o sonho do faraó? Jeová! Ele sabia de antemão que José usaria sua informação para extorquir e escravizar o povo do Egito? Sim. Quem produziu a fome? Jeová! 

É perfeitamente subentendido que os judeus não consideravam Jeová o mesmo Deus dos egípcios -- o Deus de todo o mundo. Este era seu Deus, e seu somente. Outras nações possuíam deuses, mas este era o maior de todos. Ele odiava outras nações e deuses e abominava todas as religiões, com exceção da adoração dele mesmo. 

IV - O QUE VALE ISTO TUDO? 

Poderia algum estudioso do Cristianismo explicar o Gênesis? 

Sabemos que não é verdadeiro. Ele se contradiz por si só. Há duas citações da criação, no primeiro e segundo capítulos. Na primeira versão, pássaros e bestas tinham sido criados antes do homem. 

Na Segunda, o homem foi criado antes das bestas e pássaros. 

Na primeira, aves foram feitas da água. 

Na Segunda, aves fora criadas da terra. 

Na primeira, Adão e Eva foram criados juntos. 

Na Segunda, Adão foi feito; depois as bestas e pássaros; e então, Eva é criada de uma das costelas de Adão. 

Essas histórias são muito mais antigas que o Pentateuco. 

Segundo os persas: Deus criou o mundo em seis dias, um homem chamado Adama, uma mulher chamada Eva, e então descansou. 

Os etruscos, gregos, egípcios, chineses e hindus tiveram seu Jardim do Éden e a árvore da vida. Então os persas, babilônicos, nubianos, os povos do sul da Índia, todos tinham sua história da tentação do homem e da serpente astuta. 

Os chineses acreditavam que o mal caiu sobre a terra por desobediência de uma mulher. E até os habitantes do Taiti acreditavam que o primeiro homem fora criado da terra, e a primeira mulher, dos seus ossos. 

Todas estas histórias são igualmente importantes para o mundo, e todos os deuses, igualmente inspirados. 

Sabemos também que a história do dilúvio é muito mais antiga que o livro do Gênesis e sabemos além disso que ela não é verdadeira. 

Sabemos que esta história do Gênesis fora copiada dos caldeus. Aí encontra-se tudo sobre a chuva, a arca, os animais, a pomba que fora enviada três vezes, e a montanha na qual a arca descansou. 

Então os chineses, persas, hindus, gregos, mexicanos e escandinavos tinham substancialmente a mesma história. 

Sabemos hoje que a conto da Torre de Babel não passa de uma fábula infantil e ignorante. 

O que restaria então deste inspirado livro do Gêneses? Há uma palavra sequer para desenvolver a mente e o coração? Há qualquer pensamento elevado -- qualquer grande princípio -- alguma coisa de poético -- qualquer palavra que se abra num florescer? 

Há algo além de tristes relatos detalhados de fatos que jamais aconteceram? 

Há alguma coisa no Êxodo calculado para tornar o homem mais nobre, generoso e gentil? 

Seria bom ensinar as crianças que Deus torturou o gado inocente dos egípcios -- levou-os à morte por pedradas -- para pagar os erros do faraó? 

Tornaria-nos mais piedosos a crença de que Deus matou os primogênitos dos egípcios -- os primogênitos de um povo pobre e sofrido -- das pobres meninas trabalhando nos moinhos -- por causa da maldade de um rei? 

Podemos crer que os deuses dos egípcios operavam milagres? Poderiam eles transformar água em sangue e bastões em serpentes? 

No Êxodo não há uma só linha que seja de valor ou pensamento original. 

Sabemos, se é que sabemos algo, que este livro foi escrito por selvagens -- selvagens que acreditavam em escravidão, poligamia e guerras de extermínio. Sabemos que a história contada é impossível, e que os fatos não aconteceram. Este livro admite que há outros deuses além de Jeová. No 17º capítulo há este verso: "Agora sabemos que Nosso Senhor é maior que todos os deuses, pois, nas coisas em que atuou orgulhosamente ele estava acima de todos eles." 

Então, neste livro abençoado, ensina-se a obrigação do sacrifício humano -- o sacrifício de bebês. 

No 22º capítulo há este comando: "Não demorarás a oferecer as primeiras das tuas frutas maduras e seus sucos: o primogênito dos teus filhos será dado a mim." 

Seria o Êxodo um auxílio ou um obstáculo para a espécie humana? 

Tire do Êxodo as leis comuns a todas as nações e, será que restou alguma coisa de valor? 

Haverá algo de importância no Levítico? Há algum capítulo que valha a pena ler? Que interesse há para nós as vestes dos padres, as cortinas e castiçais do Tabernáculo, as pinças e pás do altar, e o óleo usados pelos levitas? 

Para que serve o código cruel, a punição assustadora, as maldições, as 
falsidades e os milagres deste livro ignorante e infame? 

E o que há no livro dos Números -- com seus sacrifícios, e água de ciúmes, sua flores e fina farinha, seus óleos e candelabros, suas cebolas e manás -- para instruir a humanidade? Que interesse teríamos nós na rebelião do corá, a água da separação, as cinzas da novilha vermelha, a serpente em brasa, a água que sobe e desce montanha, seguindo o povo durante quarenta anos, do jumento inspirado do profeta Balaam? Teriam esses absurdos e crueldades -- esta superstição selvagem e infantil -- ajudado a civilizar a humanidade? 

Há alguma coisa em Josué -- com suas guerras, assassinatos e massacres, com suas espadas pingando com o sangue de mulheres e crianças, com suas mutilações, suas fraudes e sua fúria, seu ódio e vingança -- contribuído para melhorar o mundo? 

Não chocará cada capítulo, o coração de um homem bom? Será este um bom livro para crianças lerem? 

O livro de Josué é tão impiedoso como a fome, tão feroz como o coração de uma besta selvagem. É uma história, uma justificação, uma santificação para todo o tempo. 

O livro dos Juizes é sobre o mesmo assunto, nada mais que guerra e derramamento de sangue; a história horrível de Jael e Sisera; de Gideão e seus trombetas e cântaros; de Jefta e suas filhas, que ele matou para agradar a Jeová. 

Aqui encontramos a história de sansão, no qual um deus-sol é transformado em gigante. 

Leia este livro de Josué -- leia sobre o trucidamento de mulheres, viúvas, mães e bebês -- leia seus milagres impossíveis, seus crimes sem compaixão e todos praticados de acordo com as ordens de Jeová, e diga se este livro foi feito para nos fazer piedosos, generosos e ternos. 

Admito que a história de Rute é, sob alguns aspectos, uma história bela e tocante; que é contada com naturalidade, e que seu amor por Naomi era profundo e puro. Mas em matéria de namoro, dificilmente aconselharíamos nossas filhas a seguir o exemplo de Rute. Lembramos ainda que Rute era uma viúva. 

Há algo que valha a pena ser lido no primeiro e segundo livros de Samuel? Seria possível a um profeta de Deus despedaçar um rei cativo? Seria a história da arca, sua captura e recuperação, de importância para nós? Seria justo e misericordioso matar cinqüenta mil homens apenas por terem olhado para uma caixa? Para que nos interessam as guerras de Saul e Davi, a história de Golias e a feiticeira de Endora? 

Por que Jeová teria assassinado Uzzah por ter colocado sua mão para segurar a arca? E perdoado David por ter assassinado Urias e roubado sua esposa? 

De acordo com "Samuel", Davi fez um censo do povo. Isto gerou a ira de Jeová, e como punição ele permitiu que Davi escolhesse entre sete anos de fome, uma viagem de três meses perseguindo inimigos ou três dias de pestes. Davi, tendo confiança em Deus, escolheu três dias de pestes; e então, Deus, o piedoso, para vingar os erros de Davi, matou setenta mil homens inocentes. 

Diante das mesmas circunstâncias, o que o diabo teria feito? 

Há alguma coisa entre o primeiro e segundo livros dos reis que sugira a idéia de inspiração? 

Quando Davi está morrendo ele diz a seu filho Salomão para matar Joab -- que não deixasse sua cabeça suja ir para o túmulo em paz. Com seu último suspiro, ele mandou seu filho trazer a cabeça de Shimei para o túmulo com sangue. Tendo expressado essas palavras ternas, o bom Davi, o homem do coração de Deus, foi dormir com seus pais. 

Que necessidade teriam homens inspirados de contar a história da construção do templo, a história da visita da rainha de Sabá, ou contar o número das viúvas de Salomão? 

Que temos a ver com a atrofia da mão de Jeroboão, a profecia de Jehu, a história de Elias e o corvo? 

Podemos creditar que Elias trouxe faíscas do céu, ou que ele viajou para o paraíso numa carruagem de fogo? 

Podemos crer na multiplicação do óleo da viúva por Elisha, que um exército foi atacado por cegueira, ou que um machado flutuou na água? 

Tornaria-nos mais civilizados ler sobre a decapitação dos setenta filhos de Ahab, o arrancamento dos olhos de Zedequias e o assassinato de seus filhos? Há qualquer palavra nesse livro destinada a tornar o homem melhor? 

A primeira e Segunda crônicas é a repetição do que foi dito no primeiro e segundo dos reis. As mesmas velhas histórias -- um pouca acrescentado, um pouco resumido, mas nada de melhor ou pior. 

O livro de Ezra é de nenhuma importância. Conta-nos que Ciro, o rei da Pérsia, proclamou a construção de um templo em Jerusalém e declarou ser Jeová o real e único Deus. 

Nada podia ser mais absurdo. Ezra nos conta sobre o retorno do cativeiro, a construção do templo, a dedicação, umas poucas orações, e isto é tudo. Este livro não tem qualquer importância. Nenhuma utilidade. 

Nehemias é o mesmo. Conta a história da construção da muralha, as queixas do povo com os impostos, a lista daqueles que voltaram da Babilônia, um catálogo daqueles que moravam em Jerusalém, e a dedicação às muralhas. 

Nenhuma palavra de Nehemias vale a pena ser lida. 

Então vem o livro de Ester; nele é dito a nós que o rei Assuero fora intoxicado; que ele mandara que a sua esposa Vasti, apresentá-la a ele e seus hóspedes. Vasti recusou-se a aparecer. 

Isto enfureceu o rei, e ele ordenou que de cada província fosse trazida a mais bela moça para ele para que ele escolhesse uma para o lugar de Vasti. 

Entre algumas, foi trazida Ester, uma judia. Ela foi escolhida e se tornou a esposa do rei. Então, um cavalheiro de nome Haman quis que todos os judeus fossem mortos, e o rei, desconhecendo que Ester fosse dessa raça, assinou um decreto para que os judeus fossem mortos. 

Através da interferência de Mordecai e Ester, o decreto foi anulado e os 
judeus foram salvos. 

Haman preparou uma forca para que Mordecai fosse enforcado, mas a boa Ester agiu para que Haman e seus dez filhos fossem enforcados na forca que Haman tinha construído, e os judeus foram autorizados a assassinar mais de setenta e cinco mil súditos do rei. 

Esta é a história inspirada de Ester. 

No livro de Jó nos encontramos alguns sentimentos elevados, alguns sentimentos sublimes e tolos, algumas das maravilhas e belezas da natureza, as alegrias e tristezas da vida; mas a história é infame. 

Alguns dos Salmos são bons, muitos são indiferentes, uns poucos são infames. No meio deles há uma mistura de vícios e virtudes. Há versos que elevam e versos que degradam. Há orações de perdão e de vinganças. Na literatura humana nada há de mais cruel e infame que o 109o salmo. 

Nos Provérbios há muita sagacidade, muita piedade, e máximas prudentes, muitos ditados sábios. As mesmas idéias são expressas de diferentes formas -- a sabedoria da economia e do silêncio, o perigo da vaidade e da preguiça. Alguns são triviais, outros tolos, e muitos sábios. Esses provérbios não são generosos -- nem altruístas. Provérbios do mesmo tipo são conhecidos em todas as nações. 

Eclesiastes é o mais profundo dos livros da Bíblia. Foi escrito por um não crente -- um filósofo -- um agnóstico. Tire os trechos acrescentados e ele fica semelhante aos pensamentos do século dezenove. Neste livro estão as passagens mais poéticas e filosóficas da Bíblia. 

Após atravessar um deserto de crimes e morte, depois de ler o Pentateuco, Josué, Juízos, Samuel, Reis e Crônicas -- é deleitoso atingir este bosque de poesia chamado "Os filhos de Salomão". Um drama de amor -- de amor humano; um poema sem Jeová -- um poema nascido do coração e verdadeiro para os instintos divinos da alma. 

"Eu durmo, mas minha alma está desperta." 

Isaías é o trabalho de muitos. Seu palavrório, seu imaginário vago, suas profecias e maldições, seus bramidos contra reis e nações, suas gargalhadas da sabedoria humana, seu ódio à alegria, nada tem que melhore o bem estar do homem. 

Neste livro relatam-se os mais absurdos dos milagres. A sombra do relógio desceu dez graus para informar a Ezequias que Jeová havia adicionado quinze anos à sua vida. 

Neste milagre, o mundo, girando do leste para o oeste na velocidade de mais de mil milhas por hora, é não só parado, mas ele gira na direção contrária de modo que a sombra do relógio de sol retorna dez graus! Há neste mundo algum homem, ou uma mulher inteligente que acredite nesta falsidade absurda? 

Jeremias não contém nada de importância -- nenhum fato de valor; nada além de falsidades, lamentações, grasnados, gemidos, maldições e promessas; nada além de fome de oração, prosperidade dos maus, a ruína dos judeus, do cativeiro e retorno, e enfim, Jeremias, o traidor no tronco e na prisão. 

E Lamentações é simplesmente a continuação dos delírios do mesmo pessimismo insano; nada além de pó e trapos e cinzas, lágrimas e gemidos, delírios e ofensas. 

E Ezequiel -- o manuscrito carcomido, profetizando vitórias e derrotas, com visões de carvão em brasa, e querubins, e rodas com olhos, e a figura do caldeirão fervendo, a ressurreição de ossos secos -- é de nenhum valor. 

Como Voltaire, digo que qualquer um que admire Ezequias deveria ser compelido a jantar com ele. 

Daniel é um sonho distorcido -- um pesadelo. 

O que pode ser feito deste livro, com cabeças de ouro, com peito e braços de prata, com barriga e coxas de brasa, com pernas de aço, com pés de aço e argila; com suas inscrições nos muros, seus covis de leões, com sua visão de cordeiro e bode? 

Há algo que possa ser aprendido de Oséas e sua esposa? Há alguma utilidade em Joel, Amós e Abadia? Podemos ter algum benefício em Jonas e sua cabaça? É possível que Deus seja o verdadeiro autor de Mica e Naum, de Habakkuk e Zefanias, de Hagai e Malaquias, e Zacarias, com seus cavalos vermelhos, seus quatro chifres, seus quatro carpinteiros, suas rodas voadoras, suas montanhas de brasa, e a pedra com quatro olhos? 

Há qualquer coisa neste livro que seja de algum benefício para o homem? 

Teria ele ensinado a nós a cultivar o mundo, construir casas, tecer roupas, preparar alimento? 

Teria ele ensinado a nós pintar quadros, fazer esculturas, construir pontes, navios, ou qualquer coisa de bonito e útil? Conseguimos nossas idéias de governo, de liberdade de idéias, liberdade de pensamento, do Velho Testamento? Conseguimos tirar de qualquer destes livro um fiapo que seja de ciência? Haveria nestes "Livros Sagrados" uma linha, uma palavra que melhorasse a saúde, a inteligência e a felicidade da Humanidade? Há alguma uma coisa no Velho Testamento tão prazeroso de ler como "Robinson Crusoe", "As viagens de Gulliver", "Peter Willkins e sua esposa voadora"? Saberia o autor do Gênesis mais sobre a natureza que Humboldt, ou Darwin, ou Haeckel? O que é conhecido como o Código Mosaico seria tão sábio e piedoso como o código de nações civilizadas? Eram os escritores das Crônicas e Reis tão bons historiadores, tão bons escritores como Gibbon ou Drapper? Pode-se comparar Jeremias e Habakkuk com Dickens ou Thackeray? Podem ser os autores dos salmos e Jó ser comparados a Shakespeare? Por que deveríamos atribuir o melhor ao homem e o pior a Deus? 

V - SERIA JEOVÁ O DEUS DO AMOR? 

Poderiam estas palavras provir de coração de amor? -- "Quando o Senhor teu Deus colocá-los diante de ti, deverás golpeá-los e destruí-los implacavelmente; Não farás qualquer acordo com eles nem mostrarás qualquer piedade." 

"Trarei grandes castigos contra eles; enviarei flechas contra eles; eles serão queimados com fome e devorados com o calor sufocante e com amarga destruição." 

"Enviarei contra eles os dentes das bestas, com o veneno das serpentes do deserto." 

"A espada para fora e o terror destruirão os jovens e as virgens; os bebês também e os homens com cabelos grisalhos." 

"Deixemos as crianças sem pais e as mulheres viúvas; deixemos as crianças permanecer dispersas e pedindo; deixemos que elas procurem seu pão fora de seus lugares desolados; deixemos os que saqueadores subtraiam tudo o que têm, e deixemos que o estrangeiro estrague seu trabalho; deixemos que ninguém tenha piedade delas, e não deixemos que ninguém ajude as crianças órfãs." 

"Comerás o fruto de teu próprio corpo -- a carne de teus filhos e filhas." 

"E o céu sobre vós se transforme em brasa, e que a terra abaixo de vós seja de ferro." 

"Amaldiçoados sejais vós na cidade, e amaldiçoados vós, nos campos." 

"Farei minhas flechas bêbadas de sangue." 

"Eu rirei da vossa desgraça." 

Viriam estas maldições, estas ameaças de um coração amoroso ou de uma boca de selvageria? 

Era Jeová bom ou mau? 

Por que colocaríamos Jeová acima de todos os deuses? 

Poderia a mente medrosa e ignorante do homem criar um monstro pior? 

Teriam os bárbaros de qualquer país, em qualquer tempo, adorado um deus mais cruel? 

Brahma, era milhares de vezes mais nobre, assim como Osíris, Zeus e Júpiter. E também o ser supremo dos astecas, para quem eles ofereciam apenas o perfume das flores. O pior deus dos hindus com o colar de crânios e sua pulseira de cobras vivas, era terno e piedoso comparado com Jeová, 

Comparado com Marco Aurélio, como Jeová fica pequeno. Comparado com Abraão Lincoln, como é cruel e desprezível esse deus. 

VI - A ADMINISTRAÇÃO DE JEOVÁ 

Ele criou o mundo, os anfitriões do céu, o homem, a mulher -- e os colocou no jardim. Então a serpente os enganou e eles foram expulsos para conseguir seu próprio pão. 

Jeová ficou frustrado. 

Então ele tentou outra vez. Ele tentou durante seis mil anos civilizar seu povo. 

Nenhuma escola, nenhuma Bíblia, ninguém ensinando o povo a ler e a escrever. Nada de Dez Mandamentos. O povo tornou-se pior e pior até que a piedade de Jeová mandou o dilúvio e afogou todo o seu povo com exceção de Noé e sua família, oito no total. 

Então ele começou novamente e mudou seus métodos. A princípio, Adão e Eva eram vegetarianos. Após o dilúvio, Jeová disse: "Toda a criatura que vive será carne para vós" --inclusive cobras e besouros. 

E falhou novamente, e na torre de Babel ele dispersou seu povo. 

Descobrindo que ele não seria bem sucedido com todo o povo, ele pensou que poderia conseguir com uns poucos, então ele selecionou Abraão e seus descendentes. De novo ele falhou, e seu povo escolhido foi capturado pelos egípcios e escravizado por quatrocentos anos. 

Então ele tentou mais uma vez -- e os resgatou dos egípcios e os direcionou para a Palestina. 

Então ele modificou sua tática e permitiu que eles comessem apenas animais com cascos e que ruminassem. Novamente ele falhou. As pessoas o odiavam e preferiam a escravidão no Egito em vez da liberdade com Jeová. Então ele os manteve vagando e quase todos que saíram do Egito morreram. Então ele fez nova tentativa -- Levou-os à Palestina e os deixou ser governados pelos juizes. 

Isto também foi um erro -- nenhuma escola, nenhuma Bíblia. Então ele tentou os reis, e os reis eram na maioria idólatras. 

E o povo escolhido foi conquistado e levado como escravo pelos babilônios. 

Outro fracasso. 

Então eles retornaram e ele tentou os profetas -- rezadores e curandeiros -- mas o povo foi ficando pior e pior. Nenhuma escola, nenhuma ciência, nenhuma arte, nenhum comércio. Então Jeová fez-se carne, nasceu de uma mulher, viveu entre aquele povo que ele vinha tentando civilizar por vários milhares de anos. E essas pessoas, seguindo as leis que Jeová lhes ensinara, lançaram contra este Jeová-homem -- este Cristo -- blasfêmias, julgaram-no, condenaram-no e o mataram. 

Jeová falhou novamente. 

Então ele desistiu dos judeus e voltou sua atenção para o resto do mundo. 

E agora os judeus, desertados por Jeová, perseguidos pelos cristão, são um dos povos mais prósperos da terra. Mais uma vez Jeová falhou. 

Que administração! 

VII - O NOVO TESTAMENTO 

Quem escreveu o Novo Testamento? 

Estudiosos cristãos admitem que não sabem. Eles admitem que se os quatro evangelhos fossem escritos por Mateus, Marcos, Lucas e João eles teriam sido escritos em hebraico. E no entanto, nenhum manuscrito desses evangelhos em hebraico foi jamais encontrado. Todos os manuscritos mais antigos são em grego. Então, teólogos educados admitem que as Epístolas, Jaime e Juda foram escritos por pessoas que nunca haviam visto um dos quatro Evangelhos. Nessas Epístolas -- em Jaime e Juda -- nenhuma referência é feita a nenhum Evangelho, e a nenhum dos milagres descritos neles. 

A primeira menção que foi feita de um dos nossos Evangelhos foi feita cento e oito anos depois do nascimento de Cristo, e os quatro Evangelhos foram pela primeira vez citados e nomeados no início do terceiro século, mais ou menos cento e setenta anos após a morte de Cristo. 

Hoje sabemos que havia muitos outros Evangelhos além dos quatro conhecidos, alguns dos quais, perdidos. Havia o Evangelho de Paulo, dos egípcios, dos hebreus, da perfeição, de Judas, de Tadeu, da infância, de Tomás, de Maria, de André, de Nicodemus, de Marcion e vários outros. 

Então, havia os Atos de Pilatos, de André, de Maria, de Paulo, de Tecla, e de muitos outros; e um livro chamado Pastor de Hermas. 

A princípio, nem todos desses livros eram considerados inspirados. O Velho Testamento era tido como divino; Mas os livros conhecidos hoje como o Novo Testamento eram considerados como produção humana. Sabemos hoje que se desconhecem os autores dos quatro Evangelhos. 

A questão é, eram os autores desses três Evangelhos inspirados? 

Se eram inspirados, os quatro Evangelhos deveriam ser verdadeiros, Se forem verdadeiros, deveriam concordar entre si. 

Os quatro Evangelhos não concordam. 

Mateus, Marcos e Lucas não sabiam nada sobre expiação, nada sobre salvação pela fé. Eles conheciam apenas os Evangelhos das boas ações -- da caridade. Ensinavam que se perdoássemos os outros, seríamos perdoados por Deus. 

Com isto o Evangelho de João não concorda. 

Neste Evangelho ensina-se que devemos acreditar no Nosso Senhor Jesus Cristo; que devemos nascer de novo; que devemos beber o sangue e comer a carne de Cristo. Neste Evangelho encontramos a doutrina da expiação, na qual Cristo morreu por nós e sofreu em nosso lugar. 

Este Evangelho desvia-se muito dos outros três. Se os outros são verdadeiros, o de João será falso. Se o Evangelho de João foi escrito por um homem inspirado, os escritores dos demais eram não inspirados. Disto não há como escapar. Os quatro não podem ser verdadeiros. 

É evidente que há várias inserções -- interpolações -- nos Evangelhos. 

Por exemplo, no 28º capítulo de Mateus é dito o efeito que os soldados da tumba de Cristo foram subornados para dizer que os discípulos de Jesus roubaram seu corpo enquanto eles, os soldados, dormiam. 

Isto é claramente uma interpolação. É uma quebra na narrativa. 

O 10º versículo poderia ser seguido pelo 16º. O 10º versículo diz: "Então Jesus disse a eles, 'Não tenhais medo; ide até meus companheiros para que vão até Galiléia e lá eles me verão". 

O 16º verso diz: "Então os onze discípulos foram até a galiléia numa montanha que Jesus havia citado." 

A história sobre os soldados contida nos versículos 11º, 12º, 13º, 14º, 15º, são interpolações -- uma continuação -- também. O 15º versículo demostra isto. 

Decimo quinto versículo: "Então eles pegaram o dinheiro e fizeram o que foram ensinados. E estes ensinamentos são conservados entre os judeus até nossos dias." 

Certamente esta citação não tem nada do Evangelho original, e certamente o 15º versículo não foi escrito pelos judeus. Nenhum judeu teria escrito isto: "E este ensinamento é conservado entre os judeus até os nossos dias." 

Marcos, João e Lucas nunca ouviram que os soldados haviam sido subornados pelos padres; ou, se tiveram, não acharam que valesse a pena mencionar. Então, a citação da ascensão de Jesus em Marcos e Lucas foram interpolações. Mateus não falou nada sobre a ascensão. 

Certamente não poderia haver milagre maior, e enquanto Marcos, que estava presente -- que viu o Senhor subir, ascender e desaparecer -- não achou que valesse a pela citar. 

Por outro lado, as últimas palavras de Cristo, segundo Mateus, contradizem a ascensão: "Senhor, estarei convosco para sempre, até o fim dos tempos". 

Para João, que estava presente, se Cristo realmente ascendeu, não disse coisa alguma sobre o assunto. 

Então, sobre a ascensão, os Evangelhos não concordam. 

Marcos mostra a última conversa que Cristo teve com os discípulos, que seria a seguinte: 

"Ide para o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. Aquele que crer e for batizado, será salvo; mas aquele que não crer será condenado. E estes sinais deverão seguir aqueles que crêem: em meu nome deverão expulsar demônios; eles deverão falar línguas novas. Poderão pegar em serpentes, e se eles beberem qualquer líquido venenoso, não lhes farão mal; eles deverão colocar as mãos sobre os doentes e eles sararão. Então, depois que o Senhor falou para eles, ele subiu aos céus e sentou à direita de Deus." 

É possível que esta descrição tenha sido escrita por alguém que testemunhou este milagre? 

Este milagre é descrito por Lucas assim: 

E eis que ele os abençoou, afastou-se e subiu ao céu." 

"Brevidade é a alma do saber." 

Nos Atos é-nos ensinado que: "Quando ele tinha falado, quando eles viram, ele tinha partido, e uma nuvem o levou para longe de suas vistas." 

Nem Lucas, nem Mateus, nem João, nem os escritores dos Atos ouviram uma palavra da conversa atribuída a Cristo por Marcos. O fato é que a ascensão de Cristo não foi aplaudida pelos discípulos. 

Em princípio, Cristo era um homem -- nada mais. Maria era sua mãe, José, seu pai. A genealogia do seu pai, José, é dada para mostrar que ele era do sangue de Davi. 

Então, a alegação era que ele era o filho de Deus, e que sua mãe era uma virgem, e que ela permaneceu virgem até sua morte. 

Então, a afirmação foi feita de que Cristo ressurgiu dos mortos e ascendeu corporalmente aos céus. 

Passaram-se muitos anos para que estes absurdos se apossassem da mente dos homens. 

Se Cristo ressurgiu dos mortos, por que eles não apareceu a seus inimigos? Por que ele não chamou Caifás, o sumo sacerdote? Por que não fez outra entrada triunfal a Jerusalém? 

Se ele ressuscitou realmente, por que não fez isto em público, na presença de seus perseguidores? Por que este, o maior dos milagres, tinha de ser feito em segredo, num canto? 

Este era um milagre que poderia ser visto por grande multidão -- um milagre que não poderia ter sido simulado -- um que poderia ter convencido centenas de milhares. 

Depois da história da ressurreição, a ascensão se tornou uma necessidade. Eles tinham que se livrar do cadáver. 

Então, há muitas outras interpolações nos Evangelhos e nas Epístolas. 

Novamente eu pergunto: seria o Novo Testamento verdadeiro? Alguém hoje crê que o nascimento de Cristo foi uma saudação celestial; que uma estrela guiou os reis magos do leste; Que Herodes ordenou o assassinato dos bebês de Belém abaixo de dois anos? 

Os Evangelhos são recheados de citações de milagres. Teriam eles realmente ocorrido? 

Mateus cita vinte e dois milagres; Marcos, quinze; Lucas, dezoito; e João, sete. 

De acordo com os Evangelhos, Cristo curava doenças, expulsava demônios, repartiu as águas do mar, curou cegos, alimentou multidões com cinco pães e dois peixes, andou sobre as águas, amaldiçoou uma figueira, transformou água em vinho, e ressuscitou mortos. 

Mateus é o único que fala sobre a estrela e os reis magos -- o único que conta sobre a matança dos bebês. 

João é o único que não diz nada sobre a ressurreição de Lázaro, e Lucas é o único que cita a ressurreição da viúva do filho de Naim. 

Como é possível comprovar esses milagres? 

Os judeus, os povos entre os quais dizem que aconteceram, não acreditam neles. Os doentes, os paralíticos, os leprosos, os cegos que foram curados não se tornara seguidores de Cristo. Aqueles que ressuscitaram dos mortos nunca foram vistos novamente. 

Acreditará um homem inteligente na existência de demônios? As pessoas que escreveram três dos Evangelhos, certamente acreditavam. João não disse nada sobre Cristo expulsando demônios, mas Mateus, Marcos e Lucas deram muitos exemplos. 

Será que algum homem hoje crê que Cristo expulsava demônios? Se seus discípulos disseram que ele expulsou, estavam enganados. Se Cristo afirmou que expulsou, então ele foi um louco ou um impostor. 

Se as citações das expulsões de demônios são falsas, então os que narraram eram ignorantes ou desonestos. Se eles escreveram por ignorância, então não eram inspirados. Se eles sabiam que estavam citando algo de falso, se eles sabiam ou não, eles não eram inspirados. 

Naquela época acreditava-se que paralisia, epilepsia, surdez, loucura e muitas outras doenças eram causadas por demônios; que demônios tomavam posse e viviam dentro do corpo de homens e mulheres. Cristo acreditava nisto, ensinou isto a outras pessoas, e fingiu que curava doenças expulsando demônios dos doentes e insanos. Nós sabemos, se é que sabemos algo, que doenças não são causadas pela presença de demônios. Nós sabemos, se é que sabemos algo, que demônios não residem no corpo das pessoas. 

Se Cristo disse e fez o que os escritores dos Evangelhos dizem que ele disse e fez, então Cristo estava enganado. Se estava enganado, então certamente não era um deus. Se estava enganado, certamente não era inspirado. 

Seria verdade que o diabo tentou subornar Cristo? 

É verdade que o diabo levou Cristo para o topo do templo e tentou induzi-lo a pular no chão? 

Como podem estes milagres ser estabelecidos? 

Os chefes não escreveram nada, Cristo não escreveu nada, e o diabo permaneceu em silêncio. 

Como podemos saber que o diabo tentou subornar Cristo? Quem escreveu o fato? Não sabemos. Como os escritores obtiveram a informação? Não sabemos. 

Alguém, há uns setecentos anos, afirmou que o diabo tentara subornar Deus; que o diabo levou Deus para o alto do templo, que tentou induzir Deus a pular no chão, e que Deus era intelectualmente muito superior ao diabo. 

Estas são todas as evidências que possuímos. 

Há algo na literatura mundial mais perfeitamente idiota? 

Pessoas inteligentes não acreditam mais em feiticeiras, magos, fantasmas e diabos, e eles estão perfeitamente satisfeitos com o fato de que cada palavra do Novo Testamento sobre expulsão de demônios é falsa. 

Podemos crer que Cristo ressuscitou os mortos? 

Uma viúva, moradora de Naim está seguindo seu filho em cortejo para a tumba. Cristo pára o funeral e levanta o morto e o devolve aos braços de sua mãe. 

Este jovem desapareceu. Dele nunca mais se ouviu falar. Ninguém teve o menor interesse em saber sobre o homem que retornou do mundo dos mortos. Lucas é o único que conta a história. Talvez Mateus, Marcos e João nunca ouviram falar, ou não acreditaram, ou não lembraram do fato. 

João disse que Lázaro ressuscitou dos mortos; Marcos e Lucas não dizem nada sobre isto. Foi algo de mais maravilhoso que a ressurreição do filho da viúva. Ele já havia sido colocado na tumba havia dias. O rapaz estava ainda no caminho para a cova, mas Lázaro já estava lá. Ele já começara a apodrecer. 

Lázaro não despertou o mínimo interesse. Ninguém perguntou a ele sobre o outro mundo. Ninguém lhe pediu notícias sobre os amigos falecidos. Quando ele morreu pela Segunda vez, ninguém disse: "Ele não tem medo. Ele já percorreu esta estrada outra vez e já sabe para onde está indo." 

Nós não acreditamos nos milagres de Maomé, e na verdade eles são alegados do mesmo modo. Não temos nenhuma confiança nos milagres atribuídos a Joseph Smith, e no entanto as evidências são até melhores. 

Se um homem hoje aparecesse afirmando que ressuscita os mortos e finge que expulsa demônios, é tido como louco. E o que dizer, então de Cristo? Se quisermos salvar sua reputação, seríamos compelidos a afirmar que ele nunca tentou ressuscitar os mortos; que ele nunca afirmou que expulsava demônios. 

Temos que levar em consideração que esses relatos ignorantes e absurdos foram inventados pelos seus seguidores com o objetivo de deificar seu mestre. 

Naqueles tempos de ignorância, as falsidades adicionavam mais fama a Cristo. Mas hoje, elas põem em perigo o seu caráter e diminuem os autores dos Evangelhos. 

Podemos crer hoje que a água se transformou em vinho? João conta este milagre bobo e afirma que os outros discípulos estavam presentes; entretanto, Mateus, Marcos e Lucas não falam nada sobre o fato. 

Tome-se o caso do homem curado pelas águas da piscina de Betsedá. João diz que um anjo turvou a água da piscina de Betsedá, e que dissera que o primeiro de mergulhasse na água turva, seria curado. 

Alguém pode crer que um anjo foi até a piscina e turvou a água? Alguém acredita que o primeiro pobre coitado a tocar na água curou? Entretanto, o autor do Evangelho acreditou e citou estes absurdos. Se ele estava enganado sobre este milagre, certamente estava também sobre todos os outros que contou. 

João é o único que cita este milagre da piscina. Provavelmente os outros evangelistas não creram na história. 

Como podemos julgar estes supostos milagres? 

Nos dias dos discípulos, e por muitos séculos depois, o mundo era cheiro do sobrenatural. Quase tudo que acontecia era tido como sobrenatural. Deus era o governador do mundo. Se as pessoas eram boas, Deus mandava semente, e colheita; mas se eles eram maus ele mandava enchentes, granizo e fome. Se algo maravilhoso ocorria, era exagerado até se transformar num milagre. 

Da ordem de eventos -- da inquebrável cadeia de causas e efeitos -- as pessoas não tinham qualquer conhecimento ou nenhum pensamento 

Milagre é o distintivo e o fogo da fraude. Nenhum milagre jamais foi realizado. Nenhum homem honesto e inteligente jamais fingiu fazer milagres, nem fingirá. 

Se Cristo tinha realizado os milagres atribuídos a ele; se ele tinha curado os paralíticos e loucos; se ele havia dado audição aos surdos; visão aos cegos; se ele limpou os leprosos com uma palavra, e com um toque deu vida e movimento a um membro paralisado; se ele deu pulso, movimento, calor e pensamento a argila fria e sem vida; se ele conquistou a morte e resgatou dela suas pálidas presas -- nenhuma palavra contra teria sido exclamada, nenhuma mão erguida, exceto em louvor e honra. Em sua presença todas as cabeças seriam descobertas -- todos os joelhos ao chão. 

Nenhum homem disse: "Eu era cego e este homem me deu visão." 

Tudo era silêncio. 

VIII - A FILOSOFIA DE CRISTO 

Milhões asseguram que a filosofia de Cristo é perfeita -- que ele foi o mais sábio que já pregou. 

Vejamos: 

Não resistas ao mal. Se atingido numa face, oferece a outra. 

Há alguma sabedoria, alguma filosofia nisto? Cristo tira da bondade, da virtude, da verdade, o direito à autodefesa. Vício se torna dono do mundo, e o bom se torna vítima do infame. 

Nenhum homem tem direito à autodefesa, defender sua propriedade, sua esposa e crianças. governar se torna impossível e o mundo está à mercê dos criminosos. Há algo mais absurdo que isto? 

Ama teus inimigos. 

É possível isto? Será que qualquer ser humano já amou seu inimigo? Será que Cristo amou os seus quando ele os denunciou como hipócritas e víboras? 

Não podemos amar aqueles que nos odeiam. Ódio no coração dos outros não semeia amor nos nossos. Não resistir à maldade é absurdo; amar nossos inimigos é impossível. 

Não te preocupes com o sofrimento. 

A idéia é de que Deus tomaria conta de nós como ele tomava conta de pardais e lírios. Será que há um menor sentido nesta crença? 

Será que Deus cuida de alguém? 

Podemos viver sem nos preocupar com o sofrimento? Arar, semear, cultivar, colher, é se preocupar com o sofrimento. Nós planejamos e trabalhamos para o futuro de nossas crianças, para as gerações que estão por vir. Sem essas preocupações não haveria nenhum progresso, nenhuma civilização. O mundo retornaria às cavernas e às masmorras da selvageria. 

Se teu olho direito te ofende, tira-o fora. Se tua mão direita te ofende, corta-a fora. 

Por que? Por que é melhor que uma parte do corpo pereça a permitir que o corpo inteiro seja mandado para o inferno. 

Existe alguma sabedoria em aconselhar a retirar um olho ou amputar sua mão? É possível extrair desses ensinamentos esdrúxulos o menor grão de bom senso? 

Não jurais; nem pelos céus, porque este é o trono de Deus; nem pela terra, porque esta é o seu apoio; nem por Jerusalém, porque esta é a sua cidade sagrada. 

Aqui achamos a astronomia e a geologia de Cristo. O céu é o trono de Deus, o monarca; a terra é o seu apoio. um apoio que gira na velocidade de milhares de milhas por hora, e viaja pelo espaço a uma velocidade de mais de mil milhas por minuto! 

Onde os Cristãos pensavam que o céu ficava? Por que seria Jerusalém uma cidade santa? Seria pelo fato de que seus habitantes eram ignorantes, rudes e supersticiosos? 

Se algum homem te atingir com a lei e tomar tua roupa, dá-lhe teu manto também. 

Há qualquer ensinamento, qualquer filosofia, qualquer bom senso nesta ordem? Não seria tão sensível quanto dizer: "Se um homem obtém um processo contra ti de cem dólares, dá a ele duzentos."? 

Só um louco seguiria este conselho. 

Não penses que vim trazer a paz para a terra. Não vim para trazer a paz, mas uma espada. Porque eu vim para colocar um homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe. 

Se isto é verdade, como o mundo seria melhor se ele ficasse fora. 

É possível que aquele que disse "Não resistas a ofensas", veio trazendo uma espada? aquele que disse "Ama teus inimigos" veio para destruir a paz no mundo? 

Colocar pai contra filho, e filha contra mãe -- que gloriosa missão! 

Ele trouxe uma espada e ela foi molhada por milhares de anos com sangue de inocentes. Em milhares de corações ele semeou a semente do ódio e vingança. Ele dividiu nações e famílias, apagou a luz da razão, petrificou os corações dos homens. 

E cada um que tenha abandonado sua casa, seus amigos, suas irmãs, ou pai, ou mãe, ou esposa, ou filhos, ou países, em meu nome, receberá cem vezes, e herdará a vida eterna. 

De acordo com os escritos de Mateus, Cristo, o compadecido, o piedoso, exclamou estas terríveis palavras. Seria possível que Cristo tivesse subornado com a vida eterna de alegrias aqueles que abandonassem seus pais, mães, esposas e filhos? Estaríamos nós para receber a felicidade eterna desertando aqueles que nos amam? Deveríamos arruinar um lar aqui para construir uma mansão lá? 

E no entanto, é dito que Cristo é um exemplo para o mundo. Teria ele desertado seu pai e mãe? Ele disse, referindo-se à sua mãe: "Mulher, o que tenho a ver contigo?" 

Os fariseus disseram a Cristo: "É legal pagar tributo a César?" 

Cristo disse: "Mostra-me a moeda do tributo. Eles trouxeram para ele uma moeda. E eles disseram: É de César. E Cristo disse: Dá a César o que é de César". 

Será que Cristo pensou que a moeda era de César apenas porque possuía sua imagem estampada sobre ela? Pertenceria a moeda a César ou ao homem que a ganhara? Teria César o direito de requisitá-la só porque nela estava estampada a sua imagem? 

Não nos parece que por esta conversa que Cristo não entendia a real utilização e natureza do dinheiro? 

Podemos ainda afirmar que Cristo tenha sido o maior dos filósofos? 

IX - É CRISTO UM EXEMPLO PARA NÓS? 

Ele nunca exclamou uma palavra pela educação. Ele nem sequer insinuou nada sobre ciência. Ele nunca defendeu a indústria, economia e fez qualquer esforço para melhorar nossas condições neste mundo. Ele era inimigo do bem sucedido e do rico. Dives foi mandado para o inferno, não porque fosse mau, mas porque era rico. Lázaro foi para o céu, não porque fosse bom, mas porque era pobre. 

Cristo nunca se importou com escultura, pintura, música -- e nenhuma arte. Nunca disse nada sobre obrigações de nação a nação, nada sobre os direitos do homem; nada sobre liberdade intelectual ou liberdade de expressão. Não disse coisa alguma sobre a santidade do lar; nenhuma palavra sobre a lareira; nenhuma palavra em favor do casamento, em honra da maternidade. 

Ele nunca casou. Vagava sem lar de lugar em lugar com uns poucos discípulos. Nenhum parecia engajado em qualquer trabalho que fosse útil e pareciam viver de esmolas. 

Todas as ligações humanas eram vistas com desprezo; este mundo era sacrificado em favor de um próximo; todos os esforços humanos eram desencorajados. Deus ajudaria e protegeria. 

Por fim, no crepúsculo da vida, Cristo, reconhecendo que se enganara, e chorou: "Meu Deus, meu Deus! Por que me abandonaste?" 

Temos consciência de que o homem depende se si mesmo. Ele deve preparar a terra; ele deve construir sua casa; ele deve arar e plantar; ele deve inventar; ele deve trabalhar com as mãos e mente; ele deve suplantar as dificuldades e obstáculos; ele deve conquistar e escravizar as forças da natureza de modo que ela faça o trabalho para o mundo. 

POR QUE DEVERÍAMOS COLOCAR CRISTO NO ALTO E ACIMA DA ESPÉCIE HUMANA? 

Era ele mais gentil e piedoso, mais modesto que Buda? Era ele mais sábio, enfrentou a morte com mais calma que Sócrates? Foi ele mais paciente, mais caridoso que Epicuro? Foi ele um maior filósofo, mais profundo pensador que Epicuro? De que maneira foi ele superior a Zoroastro? Foi ele mais gentil que Lao-Tsé, mais universal que Confúcio? Foram suas idéias de direitos humanos e deveres superiores a Zeno? Expressou ele maiores verdades que Cícero? Era sua mente mais sutil que a de Espinoza? Era sua mente igual à de Kepler ou Newton? Foi ele mais grandioso na morte, e mais sublime que Bruno? Foi ele, em inteligência, em força e beleza de expressão em profundidade nos pensamentos, em riqueza de exemplos, em aptidão para a compaixão, em conhecimento da mente e coração do homem, de todas as paixões, esperanças e medos, igual a Shakespeare, o maior da espécie humana? 

Se Cristo fosse de fato um Deus, ele saberia todo o futuro. Diante dele um panorama surgiria da história por vir. Eles saberia como suas palavras seriam interpretadas. Ele saberia quais crimes, quais horrores, quais infâmias seriam cometidas em seu nome. Ele saberia que as chamas famintas da perseguição subiriam pelos membros de inúmeros mártires. Ele saberia disto; milhares e milhares de bravos homens e mulheres iriam perecer nas masmorras escuras, cheias de dor. Ele saberia que sua igreja ia inventar e produzir os instrumentos de tortura; que seus seguidores iam usar o chicote e a lenha, as correntes e a tortura. Ele veria o horizonte do futuro lúgubre com as chamas dos autos da fé. Ele saberia que seus ensinamentos se espalhariam como fungos venenosos de cada texto. Ele veria as inúmeras ignorantes seitas brigando umas contra as outras. Veria milhares de homens, sob as ordens de padres, construindo prisões para seus semelhantes. Ele veria milhares de cadafalsos pingando o sangue dos mais nobres e bravos. Ele veria seus seguidores usando os instrumentos de dor. Ouviria seus gemidos, veria suas faces pálidas, na agonia. Ouviria todos os gritos, lamentos e choros de todos os que sofriam, multidões de mártires. Ele conheceria os comentários seriam escritos em seu nome, com espadas, para ser lidas com a luz da fogueira. Ele saberia que a inquisição seria instalada baseada em palavras atribuídas a ele. 

Ele teria visto as interpolações -- os acréscimos -- as falsificações, que a hipocrisia relataria e escreveria. Ele veria todas as guerras que se desencadeariam, e saberia que em cima desses campos de morte, além dessas masmorras, além desses instrumentos de tortura, além dessas execuções, além dessas fogueiras, por mil anos tremularia a bandeira sangrenta da cruz. 

Ele saberia que a hipocrisia vestiria batina e seria coroada -- que a crueldade e credulidade mandariam no mundo; saberia que a liberdade seria banida do mundo; saberia que papas e reis, em seu nome, escravizariam almas e corpos dos homens; saberia que eles perseguiriam e destruiriam os descobridores, os pensadores, os inventores; saberia que a igreja apagaria a santa luz da razão e deixaria o mundo sem uma estrela. 

Veria seus discípulos cegando os olhos dos homens, esfolando-os vivos, amputando suas línguas, procurando por seus nervos mais doloridos. 

Saberia que em seu nome seus seguidores comercializariam carne humana; que berços seriam vendidos e seios das mulheres ficariam sem seus bebês, em troca de ouro. 

E no entanto, ele morreu com os lábios sem voz. 

Por que ele não falou? Por que ele não disse a seus discípulos e ao mundo: "Não torturarás, não aprisionarás, não queimarás em meu nome. Não perseguirás teu semelhante."? 

Por que ele não disse claramente: "Eu sou o filho de Deus." ou "Eu sou Deus"? Por que não explicou a Trindade? Por que não explicou a forma de batismo que mais o agradava? Por que ele não escreveu suas regras? Por que não quebrou os grilhões dos escravos? Por que nem mencionou se o Velho Testamento era ou não era um trabalho inspirado de Deus? Por que ele não escreveu por si só o Novo Testamento? Por que deixou suas palavras entregues à ignorância, hipocrisia e acaso? Por que não disse nada de positivo, definitivo ou satisfatório sobre o outro mundo? Por que ele não transformou a esperança lacrimejante no céu no conhecimento orgulhoso sobre outra vida? Por que ele não nos falou nada sobre os direitos humanos, direito à liberdade de mãos e mentes? 

Por que ele foi para a morte de maneira dúbia, deixando o mundo à mercê da miséria e da dúvida? 

Eu direi a você. Ele era apenas um homem, e não sabia. 

XI - INSPIRAÇÃO 

Não antes do terceiro século supunha-se ou acreditava-se que os livros compondo o Novo Testamento eram inspirados. 

Devemos lembrar que havia grande número de livros, de Evangelhos, Epístolas, Atos e entre estes, os "inspirados" eram escolhidos por homens "não-inspirados". 

Entre os "Pais do Cristianismo" havia grandes diferenças de opinião sobre quais seriam os livros inspirados; havia muitas discussões cheias de ódio. Muitos livros que hoje são considerados espúrios, eram tidos nos primórdios como divinos, e alguns dos hoje considerados inspirados eram considerados espúrios. Muitos dos antigos cristãos e alguns dos pais repudiaram o Evangelho de João, as Epístolasa os hebreus, Jade, James, Pedro e a Revelação de São João. Por outro lado, muitos deles tinham os Evangelhos dos hebreus, doe egípcios, os Ensinamentos de Pedro, os Pastores de Hermas, as Epístolas de Barnabé, o Pastor de Hermas, s Revelação de Paulo, as Epístolas de Clemente, o Evangelho de Clemente como livros inspirados, igualáveis aos 
melhores. 

De todos esses livros e de muitos outros, os cristãos escolheram quais os "inspirados". 

Os homens que fizeram a seleção eram ignorantes e supersticiosos. Eram crentes convictos no miraculoso. Pensavam que doenças podiam ser curadas colocando-se sobre o paciente um lenço que supunham ter pertencido a um apóstolo, ou os ossos de um morto. Acreditavam na fábula de fênix, e que as hienas mudavam de sexo todos os anos. 

Seriam os homens que fizeram a seleção há muitos séculos, inspirados? Seriam eles -- ignorantes, supersticiosos, estúpidos e maliciosos -- mais qualificados para julgar a "inspiração" que os estudantes do nosso tempo? Por que teríamos de seguir suas opiniões? Não poderíamos nós mesmos escolher? 

Erasmo, um dos líderes da Reforma declarou que a Epístola aos hebreus não havia sido escrita por Paulo, e negava a inspiração do segundo e terceiro livros de João, e também da Revelação. Lutero tinha a mesma opinião. Declarou James ser uma Epístola de palha e negou a inspiração da Revelação. Zwinglius rejeitou o livro da Revelação e até Calvino negou que Paulo fosse o autor de Hebreus. 

A verdade é que os protestantes não concordaram com quais os livros que eram inspirados até o ano de 1647, na Assembléia de Westminster. 

Para provar que um livro é inspirado você precisa provar a existência de Deus. Deve provar também que este Deus pensa, age, objeta, tem fins e meios. Isto é um tanto difícil. 

É impossível conceber um deus infinito. Não havendo conceito de um ser infinito, é impossível dizer se todos os fatos que sabemos tendem a provar ou não a existência de tal ser. 

Deus é uma suposição. Se a existência de Deus é admitida, como poderemos provar que ele inspirou os escritores dos livros da Bíblia? 

Como pode um homem estabelecer a inspiração de um outro? Como pode um homem estabelecer que ele próprio é inspirado? Não há como provar o fato da inspiração. A única evidência é a palavra de alguns homens que não poderiam de maneira alguma saber sobre a questão. 

O que é inspiração? Usaria Deus o homem como instrumento? Usaria-o para escrever suas idéias? Tomaria ele posse das nossas idéias para destruir nosso arbítrio? 

Eram esses escritores controlados parcialmente, de modo que seus erros, sua ignorância e seus preconceitos foram diminuídos pela sabedoria de Deus? 

Como poderíamos separar os erros do homem da sabedoria de Deus? Poderíamos fazer isto sem sermos nós mesmos inspirados? Se os escritores originais eram inspirados, então os tradutores deveriam também sê-lo, e também as pessoas que nos dizem o significado da Bíblia. 

Como pode um ser humano saber que ele é inspirado por um ser infinito? Mas de uma coisa podemos ter certeza: um livro inspirado deveria de todas as maneiras exceder todos os livros já escritos por homens não inspirados. Deveria estar acima de tudo, deveria conter a verdade, cheio de sabedoria, beleza. 

Muitos sacerdotes me questionam como posso ser tão mau em atacar a Bíblia. 

Vou dizer a você: Este livro, a Bíblia, tem perseguido até a morte, os mais inteligentes, os melhores. Este livro obstruiu e dificultou o progresso da espécie humana. Este livro envenenou as fontes do aprendizado e desviou as energias do homem. 

Este livro é inimigo da liberdade, o suporte da escravidão. Este livro semeou as sementes do ódio dentro de famílias e nações, alimentou as chamas da guerra e empobreceu o mundo. Este livro é o livro de cabeceira de reis e tiranos -- o escravizador de mulheres e crianças. Este livro corrompeu parlamentos e cortes. Este livro fez de colégios e universidades os professores do erro e os inimigos da ciência. Este livro encheu a cristandade com seitas cruéis, cheias de ódio e guerreiras. Este livro ensinou homens a matar seus semelhantes por motivos religiosos. Este livro fundou a Inquisição, seus instrumentos de tortura, construiu as masmorras, nas quais os bons e justos pereceram, forjou as correntes que rasgavam suas carnes, erigiu os patíbulos onde eles eram assassinados. Este livro juntou pilhas de lenha nos pés dos homens justos. Este livro baniu a razão da mente de milhões e encheu os asilos com os insanos. 

Este livro fez pais e mães derramar o sangue de seus bebês. Este livro foi a justificativa que se dava para separar a mãe escrava de seu bebê. Este livro encheu os navios mercantes e fez da carne humana mercadoria. Este livro acendeu as fogueiras que queimaram as "bruxas" e "feiticeiras". Este livro preencheu a escuridão com fantasmas e os corpos de homens e mulheres com demônios. Este livro poluiu a alma humana com o infame dogma do sofrimento eterno. Este livro fez da credulidade a maior das virtudes e a investigação o pior dos crimes. Este livro encheu as nações com eremitas, monges e freiras -- com piedosos e inúteis. Este livro colocou santos sujos e ignorantes acima e filósofos e filantropos. Este livro ensinou o homem a desprezar as alegrias da vida para que pudesse ser feliz numa outra -- desperdiçar este mundo em benefício de um próximo. 

Eu ataco este livro porque ele é inimigo da liberdade -- a maior obstrução na frente do progresso da humanidade. 

Deixe-me fazer uma pergunta aos sacerdotes: Como vocês podem ser tão maus em defender este livro? 

XII - A BÍBLIA VERDADEIRA 

Por milhares de anos vem o homem escrevendo a Bíblia verdadeira, que vem sendo escrita dia a dia, e que nunca acabará enquanto o homem tiver vida. Todos os fatos que sabemos, todos as fatos registrados, todas as descobertas e invenções, todas as máquinas maravilhosas com rodas e alavancas que parecem pensar, todos os poemas, cristais da mente, flores do coração, todas as canções de amor e alegria, de sorrisos e lágrimas, todos os dramas do mundo da imaginação, todas as maravilhosas pinturas, milagres de forma e cor, de luz e sombra, de maravilhosos mármores que parecem falar e respirar, os segredos revelados pelas pedras e estrelas, pela poeira e pelas flores, pela chuva e neve, pelo gelo e chama, pela corrente de vento e areia do deserto, pela altura da montanha e profundeza do mar. 

Toda a sabedoria que prolonga e enobrece a vida, tudo o que evita ou cura doenças, ou conquista a dor -- todas as justas e perfeitas leis e regras, que guiam e dão forma às nossas vidas, todos os pensamentos que alimentam as chamas do amor, a música que transfigura, captura e encanta as vitórias de corações e mentes, os milagres que as mãos têm conquistado, aos mãos destras e ágeis daqueles que trabalham para mulheres e crianças , as histórias de feitos nobres, de homens bravos e úteis, de amorosas esposas de fé , de insaciáveis mães, de conflitos pelos direitos, do sofrimento na luta pela verdade, de tudo de melhor que os homens e mulheres do mundo já disseram, pensaram e fizeram ao longo de todos os anos. 

Estes tesouros da mente e do coração -- estas são as Sagradas Escrituras da espécie humana.